Eles podem não falar, mas diversas expressões de cachorros indicam que eles estão com medo, seja de fenômenos naturais, como chuvas e ventos, ou idas ao veterinário.
Um estudo realizado pela Universidade Helsinki, na Finlândia, sugeriu mudanças no estilo de vida de cachorros com medo de situações novas, como altura, fogos de artifício e trovões. Para a melhora do bem-estar do animal, os pesquisadores destacaram a importância da socialização, do estímulo à valorização da companhia de outros cães e de atividades com o tutor.
São diversas as causas que podem estar por trás de sinais de medo nos cães. Alguns comportamentos podem estar, até mesmo, relacionados a problemas de saúde. Confira:
1. Tremedeiras
Em meio a tempestades ou rojões, é comum observar cães tremendo — e isso não é um comportamento exclusivo de cachorros, gatos também podem apresentar medo de fogos. O animal pode apresentar esse sinal em casos de pavor intenso ou insegurança extrema, como destaca a doutora em comportamento animal, Sabina Scardua.
Nessas situações, o ideal é que o pet tenha esconderijos a seu alcance — e os tutores devem encorajá-lo a usar o espaço. “Biologicamente, estar em um abrigo em tempos de chuva e barulho intenso dá a sensação de segurança que o animal precisa para passar por aquele evento”, explica.
O espaço deve ser uma espécie de toca, em que o bicho fique protegido acima da cabeça e nas laterais. Embora seja um método para aliviar a tremedeira, Sabina destaca que não é uma técnica efetiva para a solução do problema.
“O medo tem tratamento. O tutor deve procurar um profissional comportamentalista para fazer a dessensibilização dessa sensação. Ninguém merece ter episódios de medo e pavor dessa magnitude.”
Dentre outras causas, estão: frio, principalmente em animais de pequeno porte; problemas neurológicos, por meio de compressão da medula em áreas específicas, lesão de nervos periféricos por inflamação e pontos de inflamação no sistema nervoso central; desequilíbrios metabólicos; e fraqueza muscular, principalmente em cães com alguma doença e idosos.
2. Se esconder
Essa é uma tentativa frequente em gatos, mas também ocorre com cães. Aliás, esse comportamento tem relação com esconderijos, já que o pet busca esses espaços para se esconder.
“Nunca se deve tirá-lo do esconderijo ou desfazê-los para impedir que o animal se esconda, isso vai elevar o nível de estresse até as alturas”, alerta Sabina.
Aliás, é comum que tutores tentem fazer com que o pet fique exposto. O problema é que o bicho poderá ficar ansioso e até mesmo agressivo.
Sentir-se ameaçado é o que faz com que os bichos apresentem esse sinal. Dentre as possíveis causas que podem provocar essa reação, a especialista lista barulhos, visitas, implicância com outro animal e mudanças emocionais do tutor.
“Se o animal se esconde, faça mais esconderijos para ele. Quanto mais tiver, mais seguro ele se sentirá. Todos os casos precisam ser corrigidos com ajuda de profissionais especializados, para seu bem-estar”, sugere a profissional.
3. Urina fora do lugar
Muitos cachorros passam pelo processo de aprender a fazer xixi em determinado local da casa. Essa etapa exige muita paciência e calma, pois, caso o animal urine em outra região e o tutor chame sua atenção, ele ficará com medo dessa reação e, escondido, fará a necessidade em outras áreas.
O biólogo e adestrador comportamentalista Carlos Henrique Isame explica sobre um problema que é o xixi feito por submissão. Segundo Carlos, essa é uma forma do cão expressar que não quer conflitos. “Essa questão costuma acontecer com animais medrosos, por falta de uma socialização primária ou por ter sofrido maus-tratos.”
Mas há algumas dicas para a resolução desse problema. O biólogo cita uma série de maneiras de recomendações aos tutores: não ficar bravo com o pet; não fazer movimentos bruscos; não o excitar nas chegadas e despedidas — nesse caso, vale ignorá-lo por apenas dez minutos até que o cão fique mais calmo e confiante; não fazer contato visual; não caminhar em sua direção; comunicar-se abaixado e, no momento do carinho, evitar passar a mão na parte superior da cabeça do animal e preferir acariciar a região do tórax.
4. Urinação em excesso
Fazer xixi constantemente pode ser outro problema. Esbravejar ou chamar a atenção do pet não são atitudes indicadas, segundo Sabina. Na verdade, isso pode até agravar a situação.
“É preciso buscar orientação de um veterinário, para eliminar possíveis causas orgânicas, e de um comportamentalista, para correção de manejo e terapia direcionada.”
Além do medo, outras possíveis causas citadas pela especialista são: estresse; insatisfação; agitação e euforia; desequilíbrio energético do lar; disputas entre animais da casa; territorialismo e dominância; disfunção cognitiva relacionada à idade.
Problemas de saúde também podem estar por trás desse sintoma, como doenças endócrinas, dor, desconfortos físicos ou uso de corticoides.
5. Lambedura em excesso
Outro comportamento de alerta é a lambedura excessiva. Estresse e ansiedade podem desencadear essa reação. Uma análise veterinária deve ser feita para verificar possíveis problemas clínicos.
Caso sejam descartadas possibilidades de alergia ou infecção, Carlos destaca a importância de uma avaliação para entender se as necessidades básicas do pet estão sendo supridas. Chamada de 4A’s, essa lista engloba:
Acesso à comida (em horários determinados), água e banheiro (a qualquer momento);`Atividade física; Atividade mental; `Atividade social.
“A reorganização da rotina do pet e modificação comportamental podem ser a resolução desse problema”, diz.
6. Respiração ofegante
Comum em cães, o sinal de alerta acontece quando a respiração ofegante ocorre sem motivos. “Cachorros regulam sua temperatura corporal através da respiração pela boca. Arfar é comum em dias de calor ou após brincadeiras e exercícios”, explica Carlos.
Além de ansiedade de separação, alteração no sistema nervoso central e falta de oxigenação podem ser as raízes do problema. Por isso a necessidade de acompanhamento com um médico-veterinário.
7. Fugas
Um ambiente com telas é essencial para evitar tentativas de fugas, pois nem sempre esse comportamento está relacionado ao instinto de caça.
“Alguns animais podem fugir por ataques constantes, bullying de outro animal da casa, ou, ainda, brigas, discussões e grande flutuação energética na casa”, indica Sabina.
Aliás, quando se trata da questão energética no ambiente, pets mais sensíveis podem sair completamente desnorteados de casa. Fêmeas no cio e até mesmo a chegada de cães e gatos são capazes de provocar esse comportamento.
Outro ponto que possibilita a fuga do animal são os barulhos de reformas. O incômodo não é sentido apenas por humanos. Nesse cenário, Sabina cita outros aspectos que não agradam o pet, como movimentação intensa e cheiro forte de tintas e outros produtos.
8. Agressividade
Esse é um ponto considerado grave e que necessita de tratamento imediato e diagnósticos corretos. Mas vale ressaltar que o processo exige paciência, pois não é um comportamento que irá mudar de um dia para outro.
“Dificilmente a agressão cessará espontaneamente. Na maioria das vezes, irá se agravar ao longo do tempo”, explica Sabina.
Apesar das orientações serem específicas para cada caso, a maneira como o tutor se portará nesse cenário faz toda a diferença. Segundo Sabina, a prevenção desse tipo de reação consiste em não submeter o animal a extremos emocionais e excesso de agitação.
“Em qualquer idade, não permita que o pet brinque de morder a pele, mesmo que fraquinho”, orienta.
Além do medo, a agressão pode ser causada por diversas possibilidades — disputa territorial e predatória, dores e medicamentos.
9 e 10. Rabo entre as pernas e orelhas abaixadas
Esses dois sinais são colocados juntos por se tratar da linguagem corporal do pet, principalmente em cães. Carlos lembra que as expressões nos animais podem, sim, estar ligadas a alguma situação de desconforto.
“De acordo com a Escala da Agressividade, pode-se observar, inicialmente, sinais de apaziguamento, substituídos por medo, como a cauda entre as pernas e as orelhas abaixadas”, afirma.
No entanto, além desses comportamentos, é preciso observar todo o contexto do incômodo do bicho.
“Ao analisar a linguagem corporal de outra espécie, deve-se entender que, geralmente, isso é feito através de uma forma simplificada de descrever uma realidade que, muitas vezes, pode ser muito mais complexa”, finaliza.
Fonte: Vida de Bicho
Imagem: Canva